Em “Gadget – Você não é um aplicativo” Jaron Lanier discute a relação do homem com a tecnologia. Através de diversas reflexões o autor busca entender as mudanças que acontecem no mundo atual e quais serão os desdobramentos disso. Estamos cada dia mais imersos em sistemas digitais que tendem a moldar nossa visão de mundo e a dinâmica de nossos relacionamentos.
Jaron Lanier, provoca com o tema do livro, você não é um aplicativo, uma profunda reflexão sobre nosso comportamento em relação a tecnologia. O autor discorre sobre o fato de estarmos sendo engessados pela tecnologia. Toda aplicação tem limitações e em sistemas usados em grande escala, os usuários tendem a se adaptar aos seus limites, mudando sua abordagem e também a forma de pensar. Isso acontece conosco por exemplo quando se trata de pesquisas. Ninguém digita uma pergunta extensa no Google, nós tendemos a diminuir cada vez mais a frase, buscando montar um conjunto de palavras chaves que representem um bom modelo para o software do buscador. No decorrer do tempo, nós ficamos limitados em expressão e passamos a agir com base nessas restrições. O autor mostra que esses limites estão em todos sistemas que usamos: computadores, celulares, smart TVs, etc. Sua maior crítica é que nós nos esforçamos para ser menos que as máquinas e poder corresponder a suas limitações. Essa conduta resulta em um empobrecimento intelectual do homem, visto que o uso de dispositivos digitais ocupa pelo menos 50% do tempo que permanecemos acordados. O autor deixa claro que não é um tecnofóbico, isso fica evidente mediante ao seu envolvimento com a tecnologia, inclusive com uma das suas maiores contribuições, a realidade virtual, termo inclusive cunhado por ele.
Como em toda novidade nós mergulhamos de cabeça na era digital e com ela assumimos muito da cultura da internet. O autor, faz duras críticas ao que ele chama de coletivismo digital, o resultado de um pensamento de multidão, na qual o saber e as informações de qualidade se encontram no grupo e não no indivíduo. Esse movimento tende a supervalorizar alguns wikis e fóruns, enquanto marginaliza pequenos sites. A ideia do coletivo distancia o homem da sua individualidade, valorizando mais seu papel anônimo para a multidão do que na produção individual de saber. Jaron Lanier acredita que esse afastamento do indivíduo para o grupo, traz riscos à identidade , qualidade e profundidade das informações online.
Esse movimento Wiki provocou profundas alterações na remuneração de alguns profissionais, o que Lanier chama de desmonetização das profissões. A moeda da internet é a informação e o movimento de compartilhamento presume que tudo deve ser grátis: livros, músicas, filmes, séries, etc. A questão por trás disso é que o profissional dessas áreas, sempre envolvido com capital intelectual, acaba perdendo seu ganha pão, sendo empurrado para outras áreas. Essa nova dinâmica tende a criar conteúdos menos profundos, além de provocar uma grande desmotivação nestes profissionais.
O autor busca em seu livro provocar a reflexão e mostrar nosso papel enquanto seres pensantes e responsáveis por suas ações. Um ser dotado da capacidade de racionalização e livre para tomar decisões que deverá cuidar mais do mundo e de si.
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